O Olimpo mitológico das Marcas

Nos tempos atuais construímos nossa cultura baseada nas antigas culturas clássicas. Escolhemos sugar do império grego/ romano, talvez porque eles ocupavam quase toda Europa velha e foram os principais colonizadores da Europa, seus mitos, feitos históricos e grande parte de sua cultura.
As ricas histórias de feitos heróicos e atos divinos encheram nossos olhos e mentes com os ideais de pessoa, seja homem ou mulher. Esses ideais permanecem ate hoje sob a forma de aspirações e traços da psique humana. Jung estudou isso a fundo e chegou a idéia dos arquétipos, que são nada mais nada menos que os tipos, ou esteriotipos mentais de traços psicológicos.
Estes arquétipos, que estão emaranhados em nossa sociedade, guiam e moldam nosso comportamento justamente porque esses traços são herdados e vistos como as qualidades ideais de cada indivíduo, contém o que o individuo deve ser para se tornar uma pessoa socialmente aceita e bem vista pelos demais indivíduos.
O sistema capitalista ao deparar com o fato que nossa sociedade é construída com base em elementos das culturas clássicas e principalmente em suas mitologias e que na psicologia os mesmos traços eram encontrados nos elementos formadores da psique humana, começou a estudar e desenvolver como utilizar esses arquétipos para ter uma diferenciação maior entre seus produtos.
Uma vez que a equiparação tecnológica permitia todas as empresas ter produtos de qualidade similar e com os mesmos custos de produção, a escolha desses produtos pelo consumidor deveria ser feita por outros fatores, outras características diferente da qualidade do produto.
A solução encontrada foi incorporar ao produto características subjetivas e de dimensão psíquica, onde o produto ganha traços humanos e possui valores extras alem das funcionalidades/ utilidades dos produtos.
Esse perfil psicológico do produto faz com que o produto deixe de ser apenas uma coisa para ser algo de extrema importância para o consumidor. O produto deixa de ser produto para ser marca, essa transformação, aparentemente sutil, é na verdade onde esta a grande diferença e onde as empresas conseguem as suas fatias de mercado.
As marcas se apropriam dos mitos formadores da psique humana e são aceitos com mais facilidade pelos consumidores, que ao ver nas campanhas publicitárias as mesmas características que o compõem, se sentem familiarizados, se identificam com aquela marca, tornando-a como parte do seu próprio ser.
Esse movimento de humanização da marca foi estudado e teorizado como sendo a Industria Cultural, os apocalípticos Franquifurtianos, que foram os pioneiros nesse estudo, diziam que a industria cultural retira da cultura pequenas partes, estandardiza, produz em serie e coloca para nos consumidores nos sentirmos bem adquirindo esses produtos. Os arquétipos incorporados aos produtos os tornam muito mais valiosos e criam uma fina mascara psicológica sob o produto, essa mascara é criada baseada nas culturas formadoras de nossa sociedade, dos atributos da psique humana e dos arquétipos do inconsciente coletivo.
Tudo isso é criado com o propósito único de se sobressair dos concorrentes e conquistar seu lugar na encharcada mente do consumidor, tudo isso é criado para a marca se tornar um “individuo” e como tal ser diferente dos demais de sua “espécie”, chegando finalmente ao objetivo final das industrias capitalistas que é o lucro.
Para ilustrar essa máquina-de-fazer-lucro temos um anuncio criado pela DPTO para a gigante dos microprocessadores de computador a AMD.
O anuncio traz a imagem de um homem, com músculos e formas bem definidas, como nas esculturas greco-romanas onde os deuses de feitos mitológicos fantásticos eram retratados tendo corpos perfeitos, uma referencia direta e claríssima a uma das principais culturas formadoras de mitos na nossa sociedade.
A peça traz ainda os dizeres: “Mais que um processador. Um tributo a sua liberdade de escolha”, onde vemos claramente a idéia que o consumidor que obtiver um processador, não qualquer processador, mas um processador da marca AMD, terá alem dos benefícios de um produto de qualidade ainda o seu direito de liberdade de escolha exaltado. Uma das características da psique humana contemporânea é justamente a liberdade de idéias, pensamentos e escolhas. Obtendo esse produto você nao será como os demais, terá exercido seu livre-arbítrio, seu direito divino de escolha.
Para completar, e fechar a peça, temos alguns gráficos comparativos do microprocessador AMD e seus principais concorrentes mostrando ainda que ao escolher a marca AMD, você nao só estará exercendo sua liberdade de escolha, mas como estará à frente dos demais competidores, na vanguarda da tecnologia, vencendo por tanto o duelo da concorrência.
A semelhança nao é mera coincidência, a peca esta recheada de características da psique humana e arquétipos inconscientes coletivos. Vemos claramente o arquétipo masculino, diga-se de passagem, o principal consumidor de microprocessadores, do Guerreiro-Heroi.
O Guerreiro-Heroi representa, no inconsciente coletivo, a independência, a forca e a coragem. Características muito semelhantes, ou se nao as mesmas, dos homens de negócios, consumidores assíduos de microprocessadores.
Ao analisar as campanhas nesse nível, percebemos que os arquétipos coletivos foram incorporados as marcas e os apelos publicitários são bem mais amplos no campo psicológico do que no campo dos atributos físicos e qualidade do produto. A marca, que contem as características psicológicas do produto, é bem mais valiosa, tanto para os consumidores quanto para gerar um lucro maior as empresas, se tornando assim o principal diferenciador na mente dos consumidores e garantindo o posicionamento no mercado e o bem estar da empresa detentora da marca.