Shows e Nine Inch Nails

Eu tenho uma relação muito especial com shows de música, e até um pouco paradoxal.

Paradoxal porque eu tenho uma bateria social muito pequena. Detesto muvuca, odeio música alta e algazarra.

Shows de música são basicamente uma grande muvuca com música alta e algazarra e é um dos ambientes que eu me sinto melhor.

Claro que considerando aqui que é um show de música que eu gosto e optei por livre e espontânea vontade estar.

Então eu tenho um arquivo on-line com uma lista, mais ou menos muito precisa de todos os shows que fui na vida. Essa lista conta apenas os shows que fui para curtir e não a trabalho na minha breve, e quem sabe um dia retomada, carreira de fotógrafo

O primeiro show que fui, foi em 1996 e de lá pra cá foram um monte. Não contei porque o número aqui não faz muito sentido, foram muitos e teria ido em mais se fosse possível.

Mas dentre desses shows, teve um, ou melhor, de uma banda que sempre tive um “plus a mais”: Nine Inch Nails.

Talvez uma das primeiras bandas que comecei a ouvir e a que me lembro com clareza como comecei a ouvir.

O ano era 1994 e eu estava acabando o ensino médio. Na época a gente era doutrinado pela MTV, mas era bem complicado.

MTV pegava apenas por UHF ou por TV a Cabo.

UHF não era muito amigável e não tinha a melhor das recepções na minha casa, porém na casa de um colega meu pegava bem e ele gravava fitas de videocassete com alguns programas e clips.

Basicamente eram compilados de clips, do Fúria Metal, Aeon Flux, The Maxx e Beavis and Butt-head. E entre os clips um me chamou a atenção que foi o clip de Closer do Nine Inch Nails.

Era tudo muito diferente. A estética, o tipo de som. A temática eu não fazia idéia pois não entendia inglês e não tinha internet para pesquisar ou traduzir as músicas.

A partir dai foi “fácil” achar mais músicas da banda, mais clips (o de Wish me marcou muito também).

Consumir música na época era feito por fitas K7 com coletâneas e esse meu amigo me presenteou com um vinil do Broken, que tenho até hoje, mas na época, não tinha onde ouvir. CD só fui ter muito tempo depois, acho que um dos motivos era que Nine Inch Nails não era muito popular.

Então achar discos para comprar era difícil. Ter dinheiro para comprar era ainda mais difícil.

Outra coisa que explodiu a minha cabeça, foi a participação direta da banda no jogo Quake. Direta mesmo.

Caixa de munição do jogo Quake

O áudio do personagem pulando é do próprio Trent Reznor e a logo estampa as caixas de munição do jogo.

É uma sensação muito maravilhosa ver esse pequeno detalhe e reconhecer imediatamente da onde vem.

Muita gente na época nem sabia disso e nem ligava, mas quem sabia, sabia e dá aquela sensação de “código secreto” só para membros.

E aí, depois de mais de 10 anos de tomar conhecimento da existência da banda, foi anunciado o primeiro show da banda no Brasil, no festival Claro que é Rock (sik) com apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Pra mim era prioridade número 1 ir nesse show.

Naquele tempo eu morava em Belo Horizonte e a opção mais fácil era ir até São Paulo.

Já que além de conhecer um pouco a cidade ainda tinha o apartamento do meu pai lá, então a hospedagem já estava garantida, era só ir mesmo.

No dia do show teve uma pequena confusão, o show aconteceu na Chácara do Jóquei Clube de São Paulo mas o taxista me levou até o Jóquei Clube que era em um outro lugar, não muito longe, mas também não era próximo.

Eu já estava bem ansioso e esse pequeno desvio me deu quase um pequeno infarto.

Mas ainda era cedo, por ser um festival não estava interessado nas outras bandas, então tudo bem atrasar um pouco.

Algo que me lembro foi ter visto a camiseta mas eu por pouco não consigo comprar, não aceitava cartão e eu não tinha dinheiro vivo suficiente para comprar a camiseta, comer ou beber alguma coisa e voltar pra casa, mas um amigo que encontrei lá, me salvou e eu consegui comprar a camiseta, que também ainda tenho.

Não está em condições de uso mais, mas não consigo jogar fora. Quem sabe um dia eu até faça um quadro com ela.

O show começou com um pequeno atraso graças ao Sonic Youth que ficou enrolando para terminar a sua apresentação.

Eu que já não gostava muito peguei um ranço eterno da banda.

Um fantástico vídeo de 14 segundos de Head Like a Hole (cuidado, som estourado!)

A apresentação foi maravilhosa, curta, mas acho que nem se tivessem tocado todas as músicas por 2 dias seguidos, teria sido o suficiente.

Sempre fiquei chateado que a banda tocou muito pouco no Brasil.

A próxima apresentação foi quase 10 anos depois, em 2014 no Lollapalooza, também em São Paulo.

Mas aí eu já morava em SP então tudo ficou muito mais fácil.

Bem, se é que dá para considerar ir até o autódromo de Interlagos “mais fácil”, mas pelo menos não precisei viajar para ver a banda novamente.

Mais uma apresentação maravilhosa, mas um show um pouco vazio de público.

Nine Inch Nails não é uma banda muito popular, não no sentido de mega bandas.

Na minha opinião, show em festival é algo bem ruim. Principalmente se você vai ao festival para ver uma ou outra banda.

Claro que se tiver um conjunto de bandas grande que você gosta, vale mais a pena, mas normalmente não.

É muito longo, comida é cara e ruim, a estrutura é precária e fica ainda pior se chove.

Normalmente os shows são mais curtos, os palcos mais simples e o valor do festival é bem alto.

Foi o que aconteceu nessa apresentação de 2014.

Eu fui apenas para ver o Nine Inch Nails, o show foi curto, o som estava baixo para não vazar os outros palcos e foi bem salgado.

E aí temos mais um salto de mais de 10 anos para o último show do Nine Inch Nails que fui, agora aqui em Berlin em 2025.

Parece uma sina ou tradição que eu só consiga ver a banda a cada 10 anos e confesso que quando mudei para cá, uma das minhas esperanças era ver eles, especificamente, com mais frequência.

A grande diferença dessa vez é que vi, pela primeira vez, um show APENAS da banda. Fora de festival.

Com todo tempo e detalhes pensados para o show.

Sem banda atrasando o show, sem problemas de som baixo, sem palco simples.

A apresentação completa do jeito que ela foi planejada.

Claro que teve a sua pequena dose de emoções antes do show. Saí mais cedo mas mesmo assim, no meio do caminho, o serviço de trens parou por conta de animais e um incêndio (??) nos trilhos.

Um pequeno atraso, mas nada demais, só para dar uma salpicada de emoção mesmo.

Essa turnê não é específica de nenhum trabalho novo, mas é levemente focada nos primeiros trabalhos da banda, que é também a fase que mais gosto.

Algo muito interessante foi o uso de 2 palcos.

Um pequeno no meio do público e o palco principal.

Foi no palco pequeno que o show começou apenas com o Trent e um piano.

Uma das cenas mais bonitas que já vi.

Nine Inch Nails não é uma banda `soft` mas tem algumas músicas que ficam muito boas apenas no piano.

Achei interessante começar assim e até me peguei pensando que um show acústico do Nine Inch Nails poderia ser interessante.

A moda dos acústicos já passou faz tempo, e acho que talvez faria sentido agora. Coisa de cria de MTV.

Quem sabe um dia quando o Trent não puder gritar mais tanto.

Mas como diria Arya Stark: NOT TODAY.

Graças a boas almas que passaram o show inteiro filmando, dá até pra ver essa apresentação no YouTube.

Tem até algumas outras gravações completas do show e músicas soltas.

O que me leva a querer fazer uma edição de algumas dessas apresentações e gravar um dvd bootleg, assim como os astecas faziam.

Ando achando importante preservar as coisas.

Espero que não tenha que esperar mais 10 anos para ver o Nine Inch Nails novamente, mas se tiver que esperar, fazer o que.

Uma coisa é praticamente certa é que eu estarei lá.

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