Ensaio sobre a solidão

Esse post não começou a ser escrito agora. Começou a ser escrito bem antes da primeira palavra escrita aqui. Já faz tanto tempo que essas palavras estão flutuando por aqui, que nem sei realmente quando começou.

Acho que começou com a rejeição, você não se sente sozinho quando está acolhido ou bem recebido em algum lugar/situação.

Acho que a lembrança mais remota de ser rejeitado foi quando minha família mudou de Recife para Belo Horizonte. Eu devia ter por volta de 10 anos e foi um desastre.

Cheguei em uma cidade estranha onde eu não falava do mesmo jeito, não tinha as mesmas referências e crianças conseguem ser bem cruéis quando querem. Eu não era bem vindo e elas faziam questão de deixar isso bem claro.

Com o passar dos anos isso melhorou um pouco, eu fui me adaptando, mas sempre era o diferente, seja pelo sotaque ou pelo comportamento, eu era sempre notado e isolado.

Quando a rejeição passa a ser um padrão, você passa a contar com ela e a tentar evitar quando possível. A “solução” mais óbvia é o isolamento e solidão. Pra que arriscar passar por isso? A troco de que?

É sempre esse cálculo mental sobre quanto de sofrimento você está disposto a passar. Relações são trocas e a moeda corrente, pra mim pelo menos, é sofrimento.

Existem exceções, existem pontos fora da curva em que as coisas acontecem de maneira tão suave e tranquila, que todo aquele sofrimento que você esperava não aconteceu que é uma surpresa gigante. 

Tem uma frase de Nietzsche que diz “Odeio quem me rouba a solidão sem me oferecer verdadeira companhia”, a primeira vez que vi essa frase eu não entendi e achei até que estava errada. Depois eu comecei a entender que muitas vezes a solidão é um lugar especial e muito bom e principalmente seguro. E é bem ruim quando você é tirado desse lugar e levado a um lugar pior.

A segurança da solidão é você não sofrer, é não ter que repensar 500 vezes antes de escrever uma mensagem ou falar algo. É não se sentir um intruso, um estorvo, só esperando a primeira oportunidade para ser descartado.

Pra que arriscar passar por isso? A troco de que?

Ps: Esse post vem de muito tempo, a primeira versão é do final de 2020 e que de tempos em tempos eu retornava aqui para uma edição, ajuste e etc.

Também resolvi reabrir os comentários do blog, mas não públicos. Eu recebo o que você comenta, ninguém mais.

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