Os dois anos de pandemia

Para mim a pandemia começou no dia 13 de março. Foi o primeiro dia de home-office obrigatório e sem data para retorno presencial. Ainda não retornamos apesar de irmos para o escritório uma vez ou outra. Também foi o início do primeiro lockdown aqui em Berlin. Todas as lojas não essenciais deveriam fechar, restaurantes só por delivery ou pra viagem.

A pandemia me pegou em um momento delicado. Acredito que todos acompanharam as coisas então vou me ater ao que aconteceu comigo.

Eu mudei para Berlin no final de 2018 e foi uma mudança bem complicada, burocrática e bem desafiadora. Sair do Brasil foi difícil, chegar em Berlin foi difícil também.

2020 eu estava em um processo, saindo de uma fase depressiva mais aguda longa, começando a aproveitar a cidade nova, a descobrir as vantagens e a experimentar os benefícios da mudança. Pra mim a ideia de ficar confinado em casa foi bem assustadora. Estava dependente de fazer coisas – museus, cinemas, viagens, etc – para me sentir bem e tudo isso teria que parar.

Então nessa sexta feira 13 de 2020 o confinamento começou. Saí correndo para comprar uma cadeira para o computador por que agora a minha casa era local de trabalho também, algo que nem passou pela minha cabeça quando aluguei essa incrível kitnet de 23 metros quadrados. A falta de espaço por muitas vezes nesses dois anos foi desesperador, usei algumas estratégias, tipo comprar lampadas inteligentes que da pra mudar as cores. Isso ajuda muito a mudar o clima da casa sem precisar arrastar nenhum móvel.

Fui me adaptando.

Passei por muitas fases dessa pandemia. Fase de semi-alcoolismo, fiz pão, cortei meu cabelo eu mesmo, chorei um bocado, tive épocas de apenas sobreviver, uns dias mais tranquilos, outros menos e cá estamos.

Home-office pra mim é algo que não me sinto confortável. A casa da gente deveria ser um ambiente sagrado onde você não mistura com o trabalho, onde você relaxa e descansa. Por muitas vezes eu tenho a impressão de estar dormindo no trabalho ou de estar constantemente trabalhando. Você acorda e não está na sua sala, você está no escritório. O apartamento ser pequeno ainda piorou essa impressão, nem conseguia isolar as coisas do trabalho em um quarto.

Mas atualmente estou mais acostumado e as vezes que preciso ir ao escritório fico pensando no tempo que gasto com o deslocamento, talvez em um apartamento maior, com a parte de trabalho isolada da casa, eu possa até gostar de home-office um dia.

Eu me mantive em isolamento a maior parte do tempo desses dois anos, nos verões passados dava pra fazer algumas coisas, sair um pouco mais. Algo que voltei assim que pude foi ao cinema e foi aliviador ter um respiro de normalidade novamente. Cheguei a pensar em fazer algumas viagens mas fiquei realmente com medo, só mais recentemente que fui até Londres ajudar um casal de amigos a levar os gatos deles daqui de Berlin para lá. Foi uma viagem bem legal, mas muito burocrática, muitos formulários e testes.

Apesar do começo difícil da quarentena, chegou em um momento que me me senti muito seguro dentro de casa e isolado, então nos momentos de re-abertura tive que lidar com ataques de pânico para fazer coisas simples, tipo ir visitar um amigo ou sair para comer fora. Coisas bobas que para fazer as primeiras vezes demandava um esforço gigantesco, muitas vezes não consegui. Pra que sair pra comer uma pizza, é só pedir, ela chega e eu não me arrisquei, pra que sair pra ver os amigos, é só mandar uma mensagem ou fazer uma chamada, da no mesmo.

Obviamente não da no mesmo. Lives não substituem shows, nem streaming substitui cinema. Era a única opção pra aquele momento.

A pandemia não acabou, o Corona vai fazer parte das nossas vidas, mas agora virou notícia velha com a guerra na Ucrânia. Claro que com as vacinas e todo conhecimento adquirido nesse tempo, aos poucos a doença vai ficando controlável e o risco grave menor.

A ideia desse relato é deixar esse momento registrado, acredito que o pior já tenha passado mesmo.